domingo, 16 de junho de 2013

SEQUÊNCIA DIDÁTICA - CRÔNICA "PAUSA" DE MOACYR SCLIAR

Público Alvo: alunos do 9º ano do Ensino Fundamental

Tempo de duração: 10 aulas

Competências:
·        
  •       Ler e analisar o gênero textual crônica, o qual apresenta traços argumentativos;
  •       Selecionar informações de acordo com os objetivos ou intencionalidades da situação comunicativa;
  •              Debater sobre o tema abordado no texto lido;
  •             Discutir pontos de vista, levando em consideração as leituras e suas experiências pessoais;
  •             Criar hipótese de sentido a partir de informações dadas;
  •             Inferir informações subjacentes às ideias explicitadas no texto;
  •             Interpretar textos literários;
  •             Utilizar conhecimentos sobre a língua e sobre gêneros textuais para a elaboração e realização de projetos coletivos;
  •            Transpor o texto escrito para a oralidade, fazendo as adaptações necessárias para a dramatização.


                                                   Imagem disponível em: meufuturoquemescolheusoueu.blogspot.com


ATIVIDADE 1 – LEITURA

1- Leia silenciosamente a crônica “Pausa” de Moacyr Scliar e grife as palavras desconhecidas.

PAUSA – MOACYR SCLIAR

            Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
            - Vais sair de novo, Samuel?
            Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
            - Todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
            - Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
            Ela olhou os sanduíches:
            - Por que não vens almoçar?
            - Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
            A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga Samuel pegou o chapéu:
            - Volto de noite.
            As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
            Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar em um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos pôs-se de pé:
            - Ah! seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
            - Estou com pressa, seu Raul! – atalhou Samuel.
            - Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre – estendeu a chave.
            Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar no último andar, duas mulheres gordas, de  chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
            - Aqui, meu bem! – gritou uma, e riu: um cacarejo curto.
            Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno, uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d´água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
            Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
            Dormir.
            Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
            Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
           Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado, ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
            Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
            Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
            - Já vai, seu Isidoro?
            - Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
            - Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
            - Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caia.
            - O senhor diz isso, mas volta sempre – observou o homem rindo.
            Samuel saiu.
            Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu vermelhado. Depois seguiu. Para casa.

2-      Reúna-se com seus colegas numa roda de conversa para discutir sobre os significados das palavras desconhecidas e sobre o assunto abordado na crônica.


Imagem disponível em: www.pibidfisica.ensinodeciencias.net


3-  Agora, em grupo, vamos levantar hipóteses sobre os possíveis motivos que levavam Samuel a querer     essa “pausa” aos domingos.

ATIVIDADE 2 – ORALIDADE

Seu professor discutirá oralmente com a classe os seguintes aspectos:
·         Você costuma ler jornal?
·         Você sabia que o gênero crônica é predominantemente jornalístico?
·         Você conhece algo sobre o gênero textual crônica?

Após a discussão oral, observe na crônica lida, os seguintes elementos:
·         Aspectos da narrativa, tais como, narrador, personagens, enredo, tempo, espaço;
·         Predominância do discurso direto;
·         Análise de questões do cotidiano;
·         Crítica de aspectos sociais implícitos na narrativa.

ATIVIDADE 3 – LEITURA E ANÁLISE ESCRITA DO TEXTO

Após a leitura do texto, responda em seu caderno:

1- No início da crônica, o diálogo entre Samuel e sua esposa, demonstra algo estranho?
2- Quando Samuel chega ao seu destino, ou seja, no hotel, o autor vai criando uma situação de suspense quanto aos motivos que levavam Samuel aquele lugar. Nesse momento da história, o que você acha que ele vai fazer lá?
3- Após Samuel entrar no quarto alugado, podemos observar que a hipótese por você levantada se confirma?
4- O que ele realmente fazia aos domingos naquele hotel?
5-  Observe a parte do texto que narra o sonho de Samuel. Quais as sensações que ele teve através do sonho?
6-    Em sua opinião, o que o diálogo final do texto entre Samuel e o gerente do hotel pode sugerir?
7-    Após a leitura do texto, o que você conclui sobre o relacionamento do casal?
8-    Observe a frase abaixo:
“De vez em quando você tem que fazer uma pausa e visitar a si mesmo” Audrey Giorgi
Como podemos relacionar essa passagem com o texto lido?

ATIVIDADE 4 – PARA SABER MAIS

Após a leitura da crônica “Pausa” e de conhecer as características do gênero, seu professor vai orientá-lo a ampliar seu conhecimento sobre tal gênero, através da pesquisa sobre outros cronistas consagrados.
Em grupo, na sala de informática vocês deverão procurar outras crônicas de autores como: Luís Fernando Veríssimo, Fernando Sabino, Carlo Heitor Cony, Ligia Fagundes Telles, entre outros.
Após a pesquisa reservem em um arquivo as crônicas que o grupo tenha mais gostado, pois vocês precisarão delas para a próxima atividade.

ATIVIDADE 5 - DRAMATIZAÇÃO

Após a leitura da crônica “Pausa” e da leitura de outras crônicas, reúnam-se novamente com o grupo, escolham uma delas e transformem em uma apresentação dramatizada.
Para isso, vocês deverão fazer todas as adaptações necessárias para que o texto escrito seja apresentado oralmente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita - elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: ROJO, R. H. R.;  CORDEIRO, G. S. (Orgs./Trads.) Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004 [1996], p. 41-70.

DOLZ, J. M.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: Apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. M. et al. Gêneros orais e escritos na escola. (Orgs./trads) R. H. R. Rojo e G. S. Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004 [1996], p. 95-128.

ROJO, R. H. R. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. Texto de divulgação científica elaborado para o Programa Ensino Médio em Rede, Rede do Saber/CENP_SEE-SP e para o Programa Ler e Escrever - Desafio de Todos, CENPEC/SME-SP. SP: SEE-SP e SME-SP, 2004.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo do Estado de São Paulo: Linguagem Códigos e suas Tecnologias. Coordenação geral, Maria Inês Fini; coordenação de área, Alice Vieira. São Paulo: SEE, 2010.


SCLIAR, M. Pausa. Disponível em:                                                                                                http://efp-ava.cursos.educacao.sp.gov.br/Resource/413029,A6/Assets/linguaportuguesa/pdf/pausa.pdf.  Acesso em: 15/06/2013

CRÉDITOS:

Atividade inicialmente elaborada em encontro presencial do Curso Melhor Gestão, Melhor Ensino, pelas cursistas: Claudete Coelho Campos, Milena Azenha Defavari Duarte, Roseli T. Turquiai Milani, Odete Sueli Fávero Polveiro e Onivete Fátima F. Cardoso e aprimorada, em atividade online, do mesmo curso, pelas cursistas do grupo 1 (Arlete Ajudarte, Milena Azenha Defavari Duarte e Sirlene Aparecida Martins Bailo),  da turma 313.

Um comentário:

  1. Muito interessante a sequencia, bem sucinta, mas como uma relevância incomparável.

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